domingo, 19 de outubro de 2008

ARRANQUE !...











COMPANHIA DE ARTILHARIA 6551






A CART 6551 “nasceu” no Regimento de Artilharia Ligeira nº 3 (RAL 3), em Évora, no início do mês de Outubro de 1972. Apesar do nome, que está associado à “maternidade” onde nasceu, era uma Companhia de Infantaria, o tipo de forças que a Guerra Colonial mais necessitava.

Era também uma Companhia Independente, isto é, não estava agregada a qualquer batalhão. Estas companhias independentes, que de vez em quando a estrutura militar superior criava, destinavam-se a apoiar ou reforçar a actividade operacional de um ou outro batalhão, a título permanente ou temporário. Eram companhias dotadas de grande autonomia administrativa e grande mobilidade, prontas a intervir em qualquer teatro de guerra.

A CART 6551 integrava mancebos de todas as regiões do País, com predominância das zonas norte e centro. A sua preparação para a Guerra Colonial decorreu na cidade de Évora, no RAL – 3 entre os meses de Outubro e Dezembro do ano de 1972.
Foi uma preparação muito intensa, cuidada e exigente em todas as áreas que estavam em jogo:
- Preparação física, para adaptar o corpo a grandes e continuados esforços;
- Ordem unida, para habituar o corpo e a mente à disciplina e ao rigor;
- Tácticas de ataque e defesa, para enfrentar com êxito os desafios de uma guerra traiçoeira e imprevisível como era a guerra de guerrilha;
- Criação de um espírito de unidade, coesão, solidariedade e amizade entre todos os elementos da Companhia, condição indispensável ao estabelecimento da confiança individual e colectiva que permitiria ultrapassar com êxito todos os desafios que a Companhia iria enfrentar.
Para reforçar o espírito de corpo a Companhia adoptou o lema: um por todos e todos por um que inscreveu no seu emblema e ainda perdura entre todos os seus elementos
.
Outra vertente da sua actuação haveria de ser a ajuda permanente às populações locais, com destaque para as crianças, como também está patente no emblema que foi adoptado.

O futuro acabaria por demonstrar que todo o empenhamento e esforço dispendido na preparação para a guerra valeu a pena.

Em Janeiro de 1973 a CART 6551 estava pronta para desempenhar a sua missão, qualquer que ela fosse, em qualquer território ultramarino em que a Guerra Colonial se desenrolava. Contudo, a mobilização não foi imediata. Foi necessário esperar mais três longos meses, durante os quais houve a preocupação de manter o nível de preparação e prontidão que se havia alcançado.
Foram muitas semanas de campo no Alentejo, em pleno inverno e condições logísticas precárias, treinando
cercos, batidas, golpes de mão, emboscadas, patrulhamentos e vários exercícios com fogo real e intenso.

Em meados de Março a CART 6551 conheceu finalmente o seu destino: iria actuar no leste de Angola, ficando aquartelada em Cangumbe, uma localidade servida pelo Caminho de Ferro de Benguela, (CFB) a cerca de 100 Km da cidade do Luso (actualmente Luena), no sentido da costa atlântica.


Fizeram-se as últimas diligências e no dia 3 de Abril de 1973, por volta da meia noite, a Companhia embarcou num avião da Força Aérea no aeroporto de Figo Maduro e rumou em direcção a Luanda.


ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA CART 6551




Instalada no quartel de Grafanil, arredores de Luanda, a Compamhia permaneceu nesta cidade durante cerca de 20 dias. Foi o tempo suficiente para adaptação ao clima tropical, receber o material e equipamento individual e integrar um lote de soldados angolanos que foram distribuidos pelos quatro pelotões.

A viagem até Cangumbe prolongou-se por dois dias: uma primeira etapa em camionetas abertas até Nova Lisboa (actualmente Huambo) e uma segunda etapa de comboio até Cangumbe, onde a Companhia se instalou por volta do dia 20 de Abril de 1973.

Com a ajuda da companhia residente a CART6551 tomou conhecimento da sua missão. Para além dos patrulhamentos nas áreas sob a sua responsabilidade, a Companha apoiava as populações locais, nomeadamente:

- Transportando as pessoas e seus haveres entre localidades, segundo o planeamento das operações;


- Prestando cuidados de saúde primários pelos enfermeiros, sobretudo às mulheres e crianças, que todos os dias faziam fila para serem atendidos na enfermaria do quartel;

- Dando trabalho no quartel a elementos da população; transportando materiais de construção para os residentes construirem as suas casas;

- Apoiando o Administrador local - Sr. Joaquim Balula Chaves - garantindo segurança nas suas deslocações e fornecendo o apoio logístico possível;

Sob o ponto de vista militar a CART 6551 esteve sempre à altura das suas responsabilidades e cumpriu honrosamente todas as missões que lhe foram atribuidas. É de realçar a sua intervenção em dois momentos de grande impacto no desfecho da Guerra Colonial em Angola:

O primeiro foi a assinatura do acordo de SUSPENSÃO DAS HOSTILIDADES com a Direcção da UNITA, cuja delegação era presidida pelo Dr. Jonas Savimbi, que teve lugar no dia 14 de Junho de 1974, algures no interior da floresta. A segurança e a logística desta delicada operação foram atribuidas à CART 6551, cujo comandante teve a honra de assinar o referido acordo histórico.

Outro momento importante foi a primeira apresentação pública do Presidente da UNITA, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, que escolheu a localidade de CANGUMBE para realizar esse objectivo. Estiveram presentes o então Governador Geral de Angola, Almirante Rosa Coutinho, para além das autoridades civis e militares da Província do Moxico. À CART 6551 foi confiada a honrosa responsabilidade de preparar toda a logística deste evento, que foi testemunhado e relatado pela imprensa nacional e internacional.

No dia 30 de Novembro de 1974 a CART 6551 deixou Cangumbe com a consciência de ter cumprido plenamente o seu dever.

Na hora da partida a estação dos caminhos de ferro encheu-se de elementos da população local para se despedirem da Companhia. Foram momentos muito comoventes para todos. A população despedia-se como se estivesse perante um funeral. É que eles sabiam que doravante não podiam contar com o apoio dos militares e pressentiam um futuro próximo muito difícil.


8 comentários:

BJA disse...

Todos os camaradas podem divulgar e intervir no blog. Quaisquer incorrecções ou notícias enviem para: bja@mail.pt
A primeira parte foi o historial da Companhia, mas tenciono publicar ainda algumas fotos dos tempos da guerra.
A segunda parte vai ser a actualidade, com destaque para os encontros,começando com um breve resumo. Por fim será noticiado o último encontro, em Viseu. Um abraço . BJA. (Benjamim Almeida)

VSM disse...

Excelente "ARRANQUE!..."

Finalmente temos o nosso «ponto de encontro». Agora ficaremos mais perto uns dos outros, com a memória de há 35 anos a ser permanentemente avivada clicando num enderenço electrónico.

Abraços

Vítor Sequeira Martins
Ex-furriel-mil.

JFC disse...

É bom recordar Cangumbe, e as nossas actividades militares.
De realçar aquela famosa despedida na estação do CFB e as saudades que por certo deixámos.
Parabéns "capitão" pela iniciativa.

Um abraço do "escrita", para todos os que compartilharem estas mensagens e Bom Natal e próspero Ano Novo.

17.12.2008

José Cameirão

Isidro Marafona disse...

Um abraço para toda a rapaziada da CART 6551. Foi um prazer estar nesta companhia de Janeiro a Maio de 1974. Pertenci ao Bat. Caç. 4210 que estava no Luso (Luena). Na qualidade de Sapador de Infantaria fui enviado para junto de vós nesse período. O que inicialmente me pareceu um "castigo" ir do Luso para Cangumbe, acabou por ser uma experiência enriquecedora graças à forma como fui tratado por todos vós sem excepção. Por este motivo foi um prazer colaborar com o Furriel Campos na organização do Convívio da Póvoa de Varzim.
Podeis continuar a contar com a minha colaboração e amizade.
O amigo Isidro Marafona (Ex-Furriel Miliciano)

MMR disse...

Tendo eu convivido pouco com a Companhia no campo de operaçôes e o regresso a Metropole ser um pouco atribulado para mim,tentei varios contactos para encontrar os camaradas«sem sucesso»Não havia NET!foi com enorme satisfação quando fui contactado pelo Ex-furriel Campos para o convivio na Povoa. Felicidades para todos ate a "Flor da Casinha em Valongo.

mandim disse...

Desde Outubro que tento deixar o meu comentário. Expressei na altura ao nosso "Capitão" a excelente ideia do blog.Ontem vi a reportagem na RTP 1 da intervenção da nossa companhia em terras de Angola (estive sempre atento a todas as reportagens sobre a guerra colonial, mas também fui alertado pelo Vitor Martins sobre o assunto que iria passar no dia 6/5). Foi com saudades que vi algumas fotos ilustraram a nossa permanência em Cangumbe.O nosso "Capitão" falou de uma forma sucinta e objectiva, traçando alguns percursos da nossa CART 6551 em terras de Cangumbe (leste Angola).Muito mais haveria para dizer, mas uma reportagem está condicionada a período de antena. Está nas nossas recordações o prestimo que fez em todo processo a nossa CART 6551.

Um abraço


Mandim, ex-furriel 4.º pelotão

JFC disse...

Parabéns Capitão. Teve oportunidade de, sucintamente, contar um pouco da nossa história, embora em televisão os tempos são sempre curtos.
Até Valongo.
Um abraço.

José Cameirão

mandim disse...

Relativamente à intervenção do nosso capitão no programa sobre a guerra colonial já tive oportunidade de me manisfestar.Além de ter gravado a entrevista, estar disponível no Youtube e acessível a todos os camaradas é uma mais valia. No seguimento do itinerário, deixo aqui algumas dicas para pesquizar na internet e, com uma simples indicação dos locais de saíde e chegada é fácil obter o melhor trajecto para o ponto de encontro. Assim, é só ir ao google e escrever a palavra - via michelim portugal- e depois um cliq em via michelin portugal. street map... colocar os endereços e torna-se fácil visionar o melhor percursso.



Um abraço


Mandim