

A CART 6551 “nasceu” no Regimento de Artilharia Ligeira nº 3 (RAL 3), em Évora, no início do mês de Outubro de 1972. Apesar do nome, que está associado à “maternidade” onde nasceu, era uma Companhia de Infantaria, o tipo de forças que a Guerra Colonial mais necessitava.
Era também uma Companhia Independente, isto é, não estava agregada a qualquer batalhão. Estas companhias independentes, que de vez em quando a estrutura militar superior criava, destinavam-se a apoiar ou reforçar a actividade operacional de um ou outro batalhão, a título permanente ou temporário. Eram companhias dotadas de grande autonomia administrativa e grande mobilidade, prontas a intervir em qualquer teatro de guerra.
A CART 6551 integrava mancebos de todas as regiões do País, com predominância das zonas norte e centro. A sua preparação para a Guerra Colonial decorreu na cidade de Évora, no RAL – 3 entre os meses de Outubro e Dezembro do ano de 1972.
Foi uma preparação muito intensa, cuidada e exigente em todas as áreas que estavam em jogo:
- Preparação física, para adaptar o corpo a grandes e continuados esforços;
- Ordem unida, para habituar o corpo e a mente à disciplina e ao rigor;
- Tácticas de ataque e defesa, para enfrentar com êxito os desafios de uma guerra traiçoeira e imprevisível como era a guerra de guerrilha;
- Criação de um espírito de unidade, coesão, solidariedade e amizade entre todos os elementos da Companhia, condição indispensável ao estabelecimento da confiança individual e colectiva que permitiria ultrapassar com êxito todos os desafios que a Companhia iria enfrentar.
Para reforçar o espírito de corpo a Companhia adoptou o lema: um por todos e todos por um que inscreveu no seu emblema e ainda perdura entre todos os seus elementos.
Outra vertente da sua actuação haveria de ser a ajuda permanente às populações locais, com destaque para as crianças, como também está patente no emblema que foi adoptado.
O futuro acabaria por demonstrar que todo o empenhamento e esforço dispendido na preparação para a guerra valeu a pena.
Em Janeiro de 1973 a CART 6551 estava pronta para desempenhar a sua missão, qualquer que ela fosse, em qualquer território ultramarino em que a Guerra Colonial se desenrolava. Contudo, a mobilização não foi imediata. Foi necessário esperar mais três longos meses, durante os quais houve a preocupação de manter o nível de preparação e prontidão que se havia alcançado.
Foram muitas semanas de campo no Alentejo, em pleno inverno e condições logísticas precárias, treinando cercos, batidas, golpes de mão, emboscadas, patrulhamentos e vários exercícios com fogo real e intenso.
Em meados de Março a CART 6551 conheceu finalmente o seu destino: iria actuar no leste de Angola, ficando aquartelada em Cangumbe, uma localidade servida pelo Caminho de Ferro de Benguela, (CFB) a cerca de 100 Km da cidade do Luso (actualmente Luena), no sentido da costa atlântica.
Fizeram-se as últimas diligências e no dia 3 de Abril de 1973, por volta da meia noite, a Companhia embarcou num avião da Força Aérea no aeroporto de Figo Maduro e rumou em direcção a Luanda.
Instalada no quartel de Grafanil, arredores de Luanda, a Compamhia permaneceu nesta cidade durante cerca de 20 dias. Foi o tempo suficiente para adaptação ao clima tropical, receber o material e equipamento individual e integrar um lote de soldados angolanos que foram distribuidos pelos quatro pelotões.
A viagem até Cangumbe prolongou-se por dois dias: uma primeira etapa em camionetas abertas até Nova Lisboa (actualmente Huambo) e uma segunda etapa de comboio até Cangumbe, onde a Companhia se instalou por volta do dia 20 de Abril de 1973.
Com a ajuda da companhia residente a CART6551 tomou conhecimento da sua missão. Para além dos patrulhamentos nas áreas sob a sua responsabilidade, a Companha apoiava as populações locais, nomeadamente:
- Transportando as pessoas e seus haveres entre localidades, segundo o planeamento das operações;
- Prestando cuidados de saúde primários pelos enfermeiros, sobretudo às mulheres e crianças, que todos os dias faziam fila para serem atendidos na enfermaria do quartel;
- Dando trabalho no quartel a elementos da população; transportando materiais de construção para os residentes construirem as suas casas;
- Apoiando o Administrador local - Sr. Joaquim Balula Chaves - garantindo segurança nas suas deslocações e fornecendo o apoio logístico possível;
Sob o ponto de vista militar a CART 6551 esteve sempre à altura das suas responsabilidades e cumpriu honrosamente todas as missões que lhe foram atribuidas. É de realçar a sua intervenção em dois momentos de grande impacto no desfecho da Guerra Colonial em Angola:
O primeiro foi a assinatura do acordo de SUSPENSÃO DAS HOSTILIDADES com a Direcção da UNITA, cuja delegação era presidida pelo Dr. Jonas Savimbi, que teve lugar no dia 14 de Junho de 1974, algures no interior da floresta. A segurança e a logística desta delicada operação foram atribuidas à CART 6551, cujo comandante teve a honra de assinar o referido acordo histórico.
Outro momento importante foi a primeira apresentação pública do Presidente da UNITA, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, que escolheu a localidade de CANGUMBE para realizar esse objectivo. Estiveram presentes o então Governador Geral de Angola, Almirante Rosa Coutinho, para além das autoridades civis e militares da Província do Moxico. À CART 6551 foi confiada a honrosa responsabilidade de preparar toda a logística deste evento, que foi testemunhado e relatado pela imprensa nacional e internacional.
No dia 30 de Novembro de 1974 a CART 6551 deixou Cangumbe com a consciência de ter cumprido plenamente o seu dever.
Na hora da partida a estação dos caminhos de ferro encheu-se de elementos da população local para se despedirem da Companhia. Foram momentos muito comoventes para todos. A população despedia-se como se estivesse perante um funeral. É que eles sabiam que doravante não podiam contar com o apoio dos militares e pressentiam um futuro próximo muito difícil.
8 comentários:
Todos os camaradas podem divulgar e intervir no blog. Quaisquer incorrecções ou notícias enviem para: bja@mail.pt
A primeira parte foi o historial da Companhia, mas tenciono publicar ainda algumas fotos dos tempos da guerra.
A segunda parte vai ser a actualidade, com destaque para os encontros,começando com um breve resumo. Por fim será noticiado o último encontro, em Viseu. Um abraço . BJA. (Benjamim Almeida)
Excelente "ARRANQUE!..."
Finalmente temos o nosso «ponto de encontro». Agora ficaremos mais perto uns dos outros, com a memória de há 35 anos a ser permanentemente avivada clicando num enderenço electrónico.
Abraços
Vítor Sequeira Martins
Ex-furriel-mil.
É bom recordar Cangumbe, e as nossas actividades militares.
De realçar aquela famosa despedida na estação do CFB e as saudades que por certo deixámos.
Parabéns "capitão" pela iniciativa.
Um abraço do "escrita", para todos os que compartilharem estas mensagens e Bom Natal e próspero Ano Novo.
17.12.2008
José Cameirão
Um abraço para toda a rapaziada da CART 6551. Foi um prazer estar nesta companhia de Janeiro a Maio de 1974. Pertenci ao Bat. Caç. 4210 que estava no Luso (Luena). Na qualidade de Sapador de Infantaria fui enviado para junto de vós nesse período. O que inicialmente me pareceu um "castigo" ir do Luso para Cangumbe, acabou por ser uma experiência enriquecedora graças à forma como fui tratado por todos vós sem excepção. Por este motivo foi um prazer colaborar com o Furriel Campos na organização do Convívio da Póvoa de Varzim.
Podeis continuar a contar com a minha colaboração e amizade.
O amigo Isidro Marafona (Ex-Furriel Miliciano)
Tendo eu convivido pouco com a Companhia no campo de operaçôes e o regresso a Metropole ser um pouco atribulado para mim,tentei varios contactos para encontrar os camaradas«sem sucesso»Não havia NET!foi com enorme satisfação quando fui contactado pelo Ex-furriel Campos para o convivio na Povoa. Felicidades para todos ate a "Flor da Casinha em Valongo.
Desde Outubro que tento deixar o meu comentário. Expressei na altura ao nosso "Capitão" a excelente ideia do blog.Ontem vi a reportagem na RTP 1 da intervenção da nossa companhia em terras de Angola (estive sempre atento a todas as reportagens sobre a guerra colonial, mas também fui alertado pelo Vitor Martins sobre o assunto que iria passar no dia 6/5). Foi com saudades que vi algumas fotos ilustraram a nossa permanência em Cangumbe.O nosso "Capitão" falou de uma forma sucinta e objectiva, traçando alguns percursos da nossa CART 6551 em terras de Cangumbe (leste Angola).Muito mais haveria para dizer, mas uma reportagem está condicionada a período de antena. Está nas nossas recordações o prestimo que fez em todo processo a nossa CART 6551.
Um abraço
Mandim, ex-furriel 4.º pelotão
Parabéns Capitão. Teve oportunidade de, sucintamente, contar um pouco da nossa história, embora em televisão os tempos são sempre curtos.
Até Valongo.
Um abraço.
José Cameirão
Relativamente à intervenção do nosso capitão no programa sobre a guerra colonial já tive oportunidade de me manisfestar.Além de ter gravado a entrevista, estar disponível no Youtube e acessível a todos os camaradas é uma mais valia. No seguimento do itinerário, deixo aqui algumas dicas para pesquizar na internet e, com uma simples indicação dos locais de saíde e chegada é fácil obter o melhor trajecto para o ponto de encontro. Assim, é só ir ao google e escrever a palavra - via michelim portugal- e depois um cliq em via michelin portugal. street map... colocar os endereços e torna-se fácil visionar o melhor percursso.
Um abraço
Mandim
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