terça-feira, 28 de outubro de 2008


A Actualidade

A imagem actual de Cangumbe, obtida a partir do Google Earth, mostra uma localidade despovoada, quase abandonada (pode ser ampliada clicando uma vez). O espaço antes ocupado pelas duas grandes sanzalas de um e outro lado do C F B está praticamente vazio. A zona central, ocupada antes pela população branca, também parece pouco habitada, talvez pelo pessoal da administeração e pouco mais.
Do antigo quartel não resta qualquer vestígio. Ocupava a zona esbranquiçada, à direita na imagem, entre a primitiva pista de aviação -a faixa mais estreita à direita - (a mais larga, à esquerda, foi construida mais tarde) e a picada que atravessa a zona central de Cangumbe. Provavelmente, após a saída dos últimos soldados portugueses, o quartel foi ocupado pela Unita e mais tarde destruido nos confrontos com o M P L A. A população local deve ter aproveitado tudo o que não ardeu, em especial algumas madeiras e a pedra do campo polivalente e da messe de oficiais, pois não se vislumbra qualquer vestígio de construção na zona ocupada pelo quartel.
A população das sanzalas de Cangumbe, como de outras localidades, deve ter-se deslocado para a cidade de Luena (antiga Luso), cujas imagens do G. Earth mostram uma cidade muito populosa rodeada de grandes muceques, sinal da concentração urbana que se verifica em Angola. Localidades como Cachipoque, Ponte do Munhango, Caminhão, algumas das zonas onde as Autoridades Portuguesas concentraram populações, não revelam actualmente vestígios da presença humana. Alinha do C F B está desactivada.

domingo, 19 de outubro de 2008

ARRANQUE !...











COMPANHIA DE ARTILHARIA 6551






A CART 6551 “nasceu” no Regimento de Artilharia Ligeira nº 3 (RAL 3), em Évora, no início do mês de Outubro de 1972. Apesar do nome, que está associado à “maternidade” onde nasceu, era uma Companhia de Infantaria, o tipo de forças que a Guerra Colonial mais necessitava.

Era também uma Companhia Independente, isto é, não estava agregada a qualquer batalhão. Estas companhias independentes, que de vez em quando a estrutura militar superior criava, destinavam-se a apoiar ou reforçar a actividade operacional de um ou outro batalhão, a título permanente ou temporário. Eram companhias dotadas de grande autonomia administrativa e grande mobilidade, prontas a intervir em qualquer teatro de guerra.

A CART 6551 integrava mancebos de todas as regiões do País, com predominância das zonas norte e centro. A sua preparação para a Guerra Colonial decorreu na cidade de Évora, no RAL – 3 entre os meses de Outubro e Dezembro do ano de 1972.
Foi uma preparação muito intensa, cuidada e exigente em todas as áreas que estavam em jogo:
- Preparação física, para adaptar o corpo a grandes e continuados esforços;
- Ordem unida, para habituar o corpo e a mente à disciplina e ao rigor;
- Tácticas de ataque e defesa, para enfrentar com êxito os desafios de uma guerra traiçoeira e imprevisível como era a guerra de guerrilha;
- Criação de um espírito de unidade, coesão, solidariedade e amizade entre todos os elementos da Companhia, condição indispensável ao estabelecimento da confiança individual e colectiva que permitiria ultrapassar com êxito todos os desafios que a Companhia iria enfrentar.
Para reforçar o espírito de corpo a Companhia adoptou o lema: um por todos e todos por um que inscreveu no seu emblema e ainda perdura entre todos os seus elementos
.
Outra vertente da sua actuação haveria de ser a ajuda permanente às populações locais, com destaque para as crianças, como também está patente no emblema que foi adoptado.

O futuro acabaria por demonstrar que todo o empenhamento e esforço dispendido na preparação para a guerra valeu a pena.

Em Janeiro de 1973 a CART 6551 estava pronta para desempenhar a sua missão, qualquer que ela fosse, em qualquer território ultramarino em que a Guerra Colonial se desenrolava. Contudo, a mobilização não foi imediata. Foi necessário esperar mais três longos meses, durante os quais houve a preocupação de manter o nível de preparação e prontidão que se havia alcançado.
Foram muitas semanas de campo no Alentejo, em pleno inverno e condições logísticas precárias, treinando
cercos, batidas, golpes de mão, emboscadas, patrulhamentos e vários exercícios com fogo real e intenso.

Em meados de Março a CART 6551 conheceu finalmente o seu destino: iria actuar no leste de Angola, ficando aquartelada em Cangumbe, uma localidade servida pelo Caminho de Ferro de Benguela, (CFB) a cerca de 100 Km da cidade do Luso (actualmente Luena), no sentido da costa atlântica.


Fizeram-se as últimas diligências e no dia 3 de Abril de 1973, por volta da meia noite, a Companhia embarcou num avião da Força Aérea no aeroporto de Figo Maduro e rumou em direcção a Luanda.


ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA CART 6551




Instalada no quartel de Grafanil, arredores de Luanda, a Compamhia permaneceu nesta cidade durante cerca de 20 dias. Foi o tempo suficiente para adaptação ao clima tropical, receber o material e equipamento individual e integrar um lote de soldados angolanos que foram distribuidos pelos quatro pelotões.

A viagem até Cangumbe prolongou-se por dois dias: uma primeira etapa em camionetas abertas até Nova Lisboa (actualmente Huambo) e uma segunda etapa de comboio até Cangumbe, onde a Companhia se instalou por volta do dia 20 de Abril de 1973.

Com a ajuda da companhia residente a CART6551 tomou conhecimento da sua missão. Para além dos patrulhamentos nas áreas sob a sua responsabilidade, a Companha apoiava as populações locais, nomeadamente:

- Transportando as pessoas e seus haveres entre localidades, segundo o planeamento das operações;


- Prestando cuidados de saúde primários pelos enfermeiros, sobretudo às mulheres e crianças, que todos os dias faziam fila para serem atendidos na enfermaria do quartel;

- Dando trabalho no quartel a elementos da população; transportando materiais de construção para os residentes construirem as suas casas;

- Apoiando o Administrador local - Sr. Joaquim Balula Chaves - garantindo segurança nas suas deslocações e fornecendo o apoio logístico possível;

Sob o ponto de vista militar a CART 6551 esteve sempre à altura das suas responsabilidades e cumpriu honrosamente todas as missões que lhe foram atribuidas. É de realçar a sua intervenção em dois momentos de grande impacto no desfecho da Guerra Colonial em Angola:

O primeiro foi a assinatura do acordo de SUSPENSÃO DAS HOSTILIDADES com a Direcção da UNITA, cuja delegação era presidida pelo Dr. Jonas Savimbi, que teve lugar no dia 14 de Junho de 1974, algures no interior da floresta. A segurança e a logística desta delicada operação foram atribuidas à CART 6551, cujo comandante teve a honra de assinar o referido acordo histórico.

Outro momento importante foi a primeira apresentação pública do Presidente da UNITA, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, que escolheu a localidade de CANGUMBE para realizar esse objectivo. Estiveram presentes o então Governador Geral de Angola, Almirante Rosa Coutinho, para além das autoridades civis e militares da Província do Moxico. À CART 6551 foi confiada a honrosa responsabilidade de preparar toda a logística deste evento, que foi testemunhado e relatado pela imprensa nacional e internacional.

No dia 30 de Novembro de 1974 a CART 6551 deixou Cangumbe com a consciência de ter cumprido plenamente o seu dever.

Na hora da partida a estação dos caminhos de ferro encheu-se de elementos da população local para se despedirem da Companhia. Foram momentos muito comoventes para todos. A população despedia-se como se estivesse perante um funeral. É que eles sabiam que doravante não podiam contar com o apoio dos militares e pressentiam um futuro próximo muito difícil.